Tenda dos Pensadores, debate sobre utopia

O último dia de debates na Tenda dos Pensadores do 2º Festival Internacional da Utopia teve as utopias como tema principal. Um bom público assistiu neste domingo (22/7) à mesa que teve a participação do prefeito Fabiano Horta e dos secretários João Carlos de Lima (Participação Popular, Direitos Humanos e Mulher), Diego Zeidan (Economia Solidária) e Andrea Cunha (Cultura). Os principais palestrantes foram o pastor Ariovaldo Ramos, um dos líderes da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, e a escritora Conceição Evaristo, que pode se tornar a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, para a qual foi indicada. O ex-senador Eduardo Suplicy, que esteve na primeira edição do festival em 2016, também participou da mesa.

Já no início de sua fala, Ariovaldo Ramos destacou o fato de haver dois palestrantes negros encerrando um festival internacional. “Só isso já é uma vitória, que simboliza uma mudança de mentalidade. Essa é uma das minhas lutas, a do resgate da negritude. Temos de fazer uma nação para todos, incluindo os negros e pagando o débito histórico que o país tem com eles”, pontuou o pastor, que falou sobre o grupo comandado por ele, com sede em São Paulo. “Esses ditos ‘evangélicos’ que disputam o poder político e pregam o ódio não nos representam, e nem a Jesus Cristo. Não permitimos ataques a religiões de matriz africana e nem as de qualquer outra origem. Cremos que se você escolhe sua fé, isso é liberdade. Se não, é violência”, afirmou., que antes do início da palestra disse que sua utopia era a justiça para todos. “A mesma que Jesus prometeu com o novo céu e nova terra”.

Ainda nos bastidores, Conceição Evaristo também falou de sua definição de utopia. “É a mola mestra da vida, é o que impulsiona nosso dia a dia”, ressaltou a escritora, que abriu sua palestra dizendo que “quem perde sua utopia, adoece”, e seguiu sustentando que o silêncio pode ser um estágio da utopia como reorganização, mas que pode ser confundida com a distopia, sua antítese, e comparou o momento do país à roda de capoeira. “Quando um jogador de capoeira recua é um momento de potencialização dele para, quando retornar, entrar ainda mais forte na roda. É o que ocorre com nosso país agora, que não pode ser trocado pelo conformismo da distopia. Ela tem discursos perigosos como o da meritocracia, por esvaziar a luta coletiva, e também o da corrupção, que acaba por pregar a falta de esperança na política”, sentenciou.

Fabiano Horta fez o discurso de encerramento da tenda afirmando que o festival termina apenas fisicamente, mas segue no coração de quem acredita na justiça e na liberdade, que estão em queda no Brasil. “Na quinta-feira passada, abri aqui o festival dizendo que o festival cumpria o papel de formar um senso crítico num aprofundamento das lutas. Hoje, quando finalizamos, sinto que o que foi dito, falado e cantado nesses quatro dias gerou frutos sobre como mudar a humanidade. Vozes como as que estão nesta mesa nos deixam o norte de que a luta é necessária. As utopias estão vivas e nos pertencem”, garantiu o prefeito.

No final, o ex-senador Eduardo Suplicy ressaltou que a utopia tem origem na distribuição justa da renda para os cidadãos e citou a obra do escritor britânico Thomas More, que cunhou o termo em 1516. “Propus o projeto da renda básica do cidadão no Congresso Nacional, mas Maricá abraçou a ideia e avança bastante nesse sentido”, ressaltou, antes de interpretar  “Blowin’ in the Wind”, clássico de Bob Dylan, ao lado do músico Ronaldo Valentim.

Depois da palestra, Eduardo Suplicy visitou a feira agroecológica montada na praça Orlando de Barros Pimentel. Ao lado do prefeito Fabiano Horta, cumprimentou pessoas que passavam antes de também almoçar no local. Em seguida, o ex-senador participou ainda da última mesa de debates no Acampamento da Juventude, em São José de Imbassaí, ao lado de outros participantes, como o produtor e músico Alexandre Cerebral.

Na plateia, quem ficou até o fim afirmou ter gostado bastante das palestras. “Foi muito construtivo, principalmente para os negros e as mulheres. É importante a diversidade de pensamento”, disse a estudante de teatro Gabrielly Preato, de 18 anos, que veio de Campos do Goytacazes, no Norte Fluminense. Vindo da mesma cidade, o casal de estudantes de Geografia Pâmela Kimmengs, de 22 anos, e Alexandre Martins, de 25, falou do festival como um todo. “É um ato político para atrair a juventude e estimular o pensamento crítico, mas também para mostrar a cultura. Achei edificante e levou muita coisa daqui”, garantiu Pâmela.

 

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