Paciente atendida no CAPS é uma nova pessoa

0
2274
Nicéia aprende a fazer tapete, observada pelas professoras (à esquerda) e pela cunhada

No manicômio, não falava. No Centro de Atenção Psicossocial, posa para fotos e participa de oficina

Assim que nosso fotógrafo Fernando Silva começa a tirar fotos de Nicéia dos Santos Azeredo no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Maricá, ela pergunta: “Você é psicólogo?” Diante da resposta negativa e após explicarmos que estávamos fazendo uma matéria para o site da prefeitura, passa a posar para foto e até a escolher os locais com melhor luz e cenário. Não sem antes dar uma olhada no meu bloquinho de notas e corrigir o próprio nome: “Não é Nilcéia, é Nicéia. Tira o “L”, diz atenta.

Quem vê Nicéia hoje, não tem ideia de como ela vivia antes de ser acompanhada pela equipe do CAPS já no Hospital Colônia de Rio Bonito, onde permaneceu internada desde os 30 anos de idade. Ela não falava, sequer interagia com as pessoas e era apenas medicada à base de fortes substâncias que a mantinham dopada.

“Quero fazer a oficina de tapetes!” Pede Nicéia, assim que percebe que a sessão de fotos terminou.

Atualmente com 60 anos e nascida em Serra do Lagarto, foi aos poucos integrada à família – irmão, cunhada e sobrinha – com quem convive, desde o início do ano, sem “problema nenhum”, conforme relata a cunhada Tina.

“Quando as coordenadoras do CAPS nos procuraram e falaram sobre essa nova política de saúde mental, explicando que os manicômios fechariam e que fazia parte do novo tratamento a acolhida pelos familiares, pensamos que seria um problema. Mas não temos problema nenhum com ela. Ela ajuda em casa, vai à igreja com a gente e se interessa por tudo. Lê, desenha, vê televisão”, conta.

Tina também contou que os medicamentos diminuíram à medida que ela se integrou mais à família e às pessoas em geral: “Ela tomava seis comprimidos por dia de um dos remédios receitados, hoje só toma dois. Outro que era quatro por dia, passou para meio à noite. E outras duas medicações que eram três por dia cada, passaram para um de cada pela manhã”, enfatiza Tina. 

Para a coordenadora técnica do CAPS, Camilla Silva, Nicéia é a prova viva de que é possível trazer à tona de um paciente com transtorno mental grave o sujeito que reside dentro dele. "Manicômios apagam o sujeito e isto não é bom para ele nem para a sociedade", salienta.   

Fim do manicômio

O CAPS possui uma equipe atuando no Hospital Colônia de Rio Bonito há um ano e meio. Dos 16 pacientes de Maricá internados na unidade, dois estão sendo reintegrados à família, incluindo Nicéia, três não têm condições terapêuticas de retorno e serão encaminhados a outras instituições e dez passarão a viver em uma residência terapêutica, a ser instalada no município. 

“Esses dez pacientes não têm mais família e precisam de um lugar para voltar. A residência será a casa deles. Eles vão escolher os móveis, o quarto em que querem ficar, fazer compras e participar dos encontros no CAPS. Poderão, através das oficinas que serão oferecidas aqui, gerar a própria renda”, comenta Camilla.

O CAPS funciona na Rua Clímaco Pereira, 241, e foi criado para seguir às diretrizes do Ministério da Saúde, que sugere um novo olhar para o atendimento ao paciente psiquiátrico.