Mercado das Artes abriga talentos do artesanato

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O artesão Rafael Cavalcante e suas criações, feitas com sucata.

Rafael Cavalcante, hoje com 60 anos, era corretor de seguros quando, aos 48, se viu desempregado após a empresa onde trabalhava quebrar. A mania de catar todo tipo de sucata na rua e o talento para o artesanato transformaram a vida dele.

Essa e muitas outras histórias estão por trás das vitrines e prateleiras do Mercado das Artes, construído pela Prefeitura de Maricá e inaugurado há pouco mais de um mês para abrigar artistas locais e valorizar a cultura produzida na cidade.

No estande ocupado por Rafael estão expostas dezenas de peças criadas pelo artista com restos de tudo o que ele encontra pelo caminho. De engrenagens de eletrodomésticos a bicicletas, por exemplo, além de sucata de informática, tomadas de telefone, cabos de guarda-chuva, pinças e tampas de garrafa.

Pelas mãos do inspirado carioca, morador de Maricá há cinco anos, as peças viram esculturas abstratas, bonecos e miniaturas de barcos e motos, todas douradas. Numa ilusão de ótica, é preciso olhar com atenção para perceber do que é formada cada obra.

Quando a surpresa não está na criatividade do artista, a natureza faz esse papel. Uma das esculturas vendidas no mercado usa como base um pedaço do tronco de uma das árvores retiradas do terreno para a construção do mercado. "Essa veio daqui mesmo, prontinha", entrega, acrescentando que soube pelos jornais sobre a construção do local. “Tenho 60 anos e não tinha condições de trabalhar montando e desmontando barracas na rua”, declarou, referindo-se à antiga situação de trabalho dos artesãos de Maricá. “Quando li que a prefeitura ia erguer esse espaço, procurei a secretaria de trabalho”, concluiu Rafael, que também vende o seu trabalho no Centro do Rio.

Assim como ele, Virgínia Siqueira, de 54 anos, está realizada com o novo espaço. Artesã há 12 anos, ela cria peças com colagem de jornais. São cestos, abajures e outras peças de decoração, como os peixes que enfeitam seu estande. A família, principalmente o marido, e os amigos ajudam a recolher o jornal e garantir a matéria-prima para o trabalho, que inclui medir, dobrar e cortar as folhas para depois criar canudos de papel – alguns com estrutura de arame para garantir a sustentação. “Faço o acabamento com impermeabilizantes e vários tipos de tinta. Adoro trabalhar com cores”, revela, acrescentando que o mercado foi uma bênção para os artesãos locais. “Até pela janela já me fizeram encomendas”, comemora.