César Viellas fez o atendimento psicológico com os atletas da seleção de Tiro com Arco - Foto: Evelen Gouvêa

A intensa preparação física, comportamentos emocionais, afetivos e problemas de relacionamento afetam o desempenho de um atleta. Palavras como tensão, ansiedade e cobrança fazem parte da rotina desses profissionais de alto rendimento, principalmente às vésperas de competições internacionais.

Por conta disso, os atletas da seleção brasileira de tiro com arco, sediados no Centro de Treinamento de Maricá, recorreram a um atendimento psicológico exclusivo, promovido pela Secretaria de Saúde, para garantir um tratamento diferenciado com foco nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, realizados entre os dias 26 de julho e 11 de agosto.

Durante uma semana, antes da viagem da comitiva, o psicólogo clínico e diretor técnico do Caps Álcool e Drogas, César Viellas, acompanhou os treinos e a rotina diária dos atletas.

“De forma geral, verifiquei na equipe um elevado nível de exigência e uma preocupação exacerbada com resultados. Pudemos trabalhar questões fundamentais como concentração, respiração, relaxamento, controle de ansiedade e mentalização. Analisei todos os fatores psíquicos que pudessem interferir, de alguma maneira, na performance do atleta ou da equipe, e, fazer intervenções para que os problemas fossem resolvidos. Preparar-se previamente é uma excelente maneira de se sair bem e se destacar em relação aos concorrentes”, destacou.

Para César, o treinamento mental é tão importante quanto o físico para o melhor desempenho técnico. “O atleta precisa conhecer os seus limites e manter pensamentos positivos. No esporte profissional, a pressão pelos resultados vem da equipe, família, torcedores, patrocinadores, empresários e do próprio atleta. Precisamos trabalhar com estratégias para diminuir esse estresse constante, prepara-los emocionalmente para enfrentar um ambiente de tensão e, algumas vezes, hostil e melhorar o desempenho”, explicou, acrescentando a excelente qualidade técnica e dedicação dos atletas.

Uma das atletas mais jovens a integrar a delegação brasileira, Ana Luiza Sliatchicas Caetano, a Lulu, de 16 anos, é natural de Maricá e considerou essencial contar com o atendimento psicológico.

“Esse preparo é fundamental no esporte, principalmente, num momento tenso como é o de uma competição internacional onde estão os melhores atletas do mundo. O trabalho realizado nos permitiu ganhar mais confiança, tranquilidade e concentração. Foi muito bom contar com a ajuda desse profissional”, frisou.

Com uma formação diversificada e muitos talentos, Lulu veleja desde criança, é autora de dois livros (“Bons Ventos: Diário de Aventuras Iradas” e “Eureka”), treina kung fu, faz as aulas de inglês e participa das Olimpíadas de Matemática.

“Amo tudo que faço, mas é fundamental ter foco e muita disciplina. O arco é como se fosse uma extensão de mim. A gente trabalha muito, todos os dias e sonhamos em ser uma versão melhor de nós mesmos e do mundo. O mais importante não é ganhar e sim fazer parte”, ressaltou a atleta que, após os jogos Pan-Americanos, irá a Madri disputar o mundial de Tiro com Arco.

Para aprofundar o atendimento, o psicólogo observou a logística e a técnica aplicada por cada atleta durante o lançamento da flecha. “Não é apenas o desempenho esportivo que faz um atleta ser bom. Acima de tudo, ele precisa saber lidar com situações de entusiasmo, combinadas com momentos de derrotas, reerguidas, superação e pressão. Foi fundamental estar na prática com eles para observar que realmente é um campo de muita tensão, que exige muito foco e controle, ou seja, total exigência física e mental”, acrescentou. O gestual, as expressões faciais e o próprio andar do atleta são ferramentas que servem para identificar o nível de ansiedade e confiança do competidor.  

A ansiedade é um distúrbio emocional, causado pelo medo excessivo do futuro, no caso dos atletas do tiro com arco é o “pânico amarelo” (em referência ao alvo). “Involuntariamente, o organismo se prepara para se defender. A respiração acelera, a pressão arterial aumenta, o pescoço fica rígido e, dessa forma, a tensão atinge o corpo do atleta, no momento em que ele precisa ter total confiança e firmeza para o lançamento da flecha”, explicou.

Cesar orientou os atletas a fazer periodicamente exercícios de relaxamento trabalhando a respiração diafragmática de modo a ativar o sistema nervoso parassimpático voluntário.

“É a antiga técnica do inspira, segura e deixa o ar sair lentamente. O arqueiro deve inspirar durante o tempo de preparação, mas um pouco diferente de seu modo normal. Se puxar o ar deixando expandir o peito, a expansão faz com o corpo se inclinar para trás”, destacou.

De acordo com o psicólogo, a respiração deve ser diafragmática (controlada pelo abdômen) e só chegar a 70% ou 80% da capacidade. “Isso vai deixar a parte superior do corpo estável, aumentando o nível do oxigênio no organismo o que é fundamental para praticar o tiro”, enfatizou o psicólogo.

O arqueiro Marcelo da Silva Costa Filho, de 19 anos, e membro da seleção brasileira de tiro com arco desde 2015, considerou essenciais as dicas de respiração. “No lançamento da flecha precisamos estar com foco e concentração total. Quanto menor o batimento cardíaco, melhor será a precisão. E essa dica foi essencial para aprimorar nossa técnica”, salientou o atleta que começou a treinar tiro com arco, por meio do projeto municipal que garimpa talentos nas escolas municipais e os encaminha para o centro de treinamento da cidade. “Nosso objetivo principal é carimbar o passaporte para Tóquio 2020”, destacou  Marcelinho.

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