O enfrentamento à pandemia do novo coronavírus tem sido um desafio em todo mundo. E algumas cidades têm se destacado nesse trabalho. Maricá é uma delas. O município, que detinha nesta sexta-feira (31/07), apenas 154 casos ativos em um total de 2.316 confirmados, tem o segundo melhor número do estado em pacientes curados da Covid-19. Com índice de 95,32%, está, inclusive, acima do resultado do estado, que tem 90,43%. O município perde apenas para Niterói, que tem 96,09% de curados e comparando os seis municípios vizinhos, a média é de 93,93%.

O casal Hedio Pinto Maia, de 83 anos, e Jaziz Maria dos Santos Maia, de 74, são parte dessa história com final feliz. Moradores de São Gonçalo, ficaram internados juntos no Hospital Municipal Dr. Ernesto Che Guevara em junho (o que atesta o caráter regional e abrangente do atendimento prestado na unidade). Casados há 50 anos, se viram próximos, porém distantes: ele na Unidade Semi-Intensiva (USI) e ela intubada no Centro de Terapia Intensiva (CTI), no hospital especializado no tratamento de doentes com coronavírus.

“Agradeço muito. Todos no hospital nos deram uma assistência muito grande. No último momento, depois da alta, um exame indicava que eu precisaria de transfusão por causa de uma anemia, mas, ao chegar na UPA de Inoã, o médico refez o exame e indicou medicação venosa. Antes, ele me confortou, me passou segurança. Foi muito bom”, lembra Jaziz, ressaltando a qualidade de atendimento que se reflete também em um baixo índice de letalidade (óbitos entre contaminados por 100 mil habitantes) da cidade, de 4,68%, muito inferior ao do estado, que está em 9,57%. Nesse item Maricá também só fica atrás de Niterói, com 3,91% de taxa de letalidade. “Agradeço pela vida das assistentes sociais, enfermeiras, médicos, a todos que cuidaram de nós e fizeram diferença na nossa vida”, completou Hedio.

A alegria do casal tem explicação na agilidade que o município vem impondo às questões de diagnóstico da pandemia, especialmente no que tange ao diagnóstico. É o que explica Micheli Ferreira, coordenadora de Vigilância em Saúde, responsável pelas vigilâncias Sanitária, de Saúde do Trabalhador, Epidemiológica e em Saúde Ambiental, lembrando um fator crucial: a entrada em operação do Laboratório Central Dr. Francisco Rimolo Neto,  no Centro, onde são processadas amostras de exames pelo padrão PCR que antes necessitavam de envio ao Laboratório Noel Nutels (Lacen), do estado. “Hoje conseguimos estar com o resultado abaixo de sete dias, isso denota uma rapidez de isolamento deste paciente. Quando ele vai no polo de atendimento, já é orientado a fazer o isolamento a partir do momento em que apresenta sintomas”, comenta.

O processo é cuidadoso e intensivo. A Vigilância em Saúde faz o contato via telefone com o paciente confirmando ou não se é positivo para Covid-19 e ele passa a ser monitorado pela Unidade de Saúde da Família de referência no seu bairro ou região. Maricá possui toda a rede da Saúde integrada, onde a Atenção Primária à Saúde sabe quais são todos os pacientes em tempo real, com delay de no máximo um dia de atualização do sistema. Os laudos também estão disponíveis online.

Outra integrante da relação de curados, a cabeleireira Eliana Lima Nunes, de 56 anos, moradora de Itaipuaçu, também esteve internada no Che Guevara por 15 dias, sendo que 10 no CTI e 5 na Semi-Intensiva. Ela teve alta em 13/06, está há um mês e meio em casa e na próxima segunda-feira (03/08) voltará ao trabalho. A recuperação tem sido boa e ela lembra com carinho de todos os profissionais que deram assistência a ela, da limpeza aos médicos, passando pelos enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, assistentes sociais, odontologia e fonoaudiologia.

“O Hospital Che Guevara foi bom demais para mim. Nunca entrei em um hospital assim, tão bem equipado. Minha experiência lá dentro foi sensacional em relação ao tratamento. Só sabe quem passa. Aqui em casa todos pegaram. Meu pulmão ficou 60% comprometido”, comenta Eliane.

Ainda segundo a coordenadora de Vigilância em Saúde, as características do SarsCov-2 são diferentes e exigem muito dos profissionais que enfrentam a doença. Por isso, que as medidas não farmacológicas, como o isolamento social, são tão importantes. Para Micheli, a palavra de ordem agora é cautela.

“Não podemos achar que está resolvido, que porque é assintomático ou porque já pegou a doença pode ir para a rua e agir naturalmente entre as pessoas, porque eu positivei e posso estar carregando o vírus e levando para outras pessoas que podem reagir de uma forma completamente diferente que eu”, avalia, antes de alertar. “É uma questão de humanidade, bom senso e empatia. Se eu peguei e fiquei bem preciso reconhecer que o outro pode ficar em estado grave de saúde. Tanto que hoje em Maricá temos 84 mortos. Não dá para relaxar”, observa.

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