Médicos cubanos deixarão de atender em Maricá - Foto: Marcos Fabricio

Com a decisão do governo de Cuba de se retirar do programa Mais Médicos em função de mudanças anunciadas pelo novo presidente da República que inviabilizariam a continuidade da atuação dos profissionais no Brasil, os cinco médicos cubanos deixaram nesta quarta-feira (21/11) de atender nas cinco unidades de saúde da família no município e, na próxima semana, deixarão o Brasil.

A decisão foi lamentada tanto pela Prefeitura de Maricá quanto pelos moradores da cidade, que vinham contando com um trabalho consolidado, bem realizado e bastante humanizado desde 2013, quando as equipes começaram a atuar no munícipio. Ao todo, somente em Maricá, mais de 20 mil pessoas serão afetadas com a saída dos cubanos que atendiam as unidades dos bairros Bambuí, Santa Paula, Marinelândia, e em postos nos dois condomínios do programa Minha Casa Minha Vida de Itaipuaçu e Inoã. Só nesses dois locais são três mil famílias recebendo tal atendimento. Os médicos de Cuba também atendiam nas residências desses pacientes.

De forma emergencial, para não deixar os postos sem atendimento, a Secretaria de Saúde vai remanejar profissionais de outras unidades até que seja possível a contratação de novos médicos com perfil de atendimento para Atenção Básica. A secretária de Saúde, Simone Costa, destaca a importância da atuação dos médicos cubanos na Estratégia de Saúde da Família. “A formação acadêmica dos médicos de Cuba prioriza o tratamento do paciente de forma integrada visando fornecer assistência ao paciente como um todo, que é exatamente o perfil exigido pelo médico de família. Aqui no Brasil, a formação é para cuidar da doença, encaminhando os pacientes para os especialistas, por isso, hoje como gestora, entendo a importância desses profissionais”, ressaltou.

A aposentada e moradora do Residencial Carlos Marighella (condomínio do Minha Casa Minha Vida), em Itaipuaçu, Ana Maria Felizardo Andrade, de 62 anos, lamenta a saída da médica cubana que atuava na unidade. “Vou sentir muito a falta dela por conta do tratamento diferenciado que ela me dava. Atenciosa, carinhosa e habilidosa. Vim de Minas Gerais e o médico de lá, me passou uns remédios que não me faziam bem. Hoje, minha pressão está totalmente normalizada e, graças a ela, estou bem de saúde”, salientou. Moradora do mesmo condomínio, a técnica de enfermagem e cuidadora de idosos, Verônica Coelho, de 61 anos, também está muito triste com a saída da médica cubana. “Esses profissionais doam o seu melhor aqui no Brasil. Fazem de tudo para nos atender bem. Eles não desistem enquanto não acham o que temos. A médica sabe de tudo que tenho, acompanha todo meu prontuário, me conhece, sabe dos meus problemas. Essa decisão é uma enorme injustiça com a gente e com os médicos que também planejaram estar aqui”, afirmou.

A moradora do Residencial Carlos Alberto Soares de Freitas (MCMV), em Inoã, Regina Maria Souza da Silva, de 74 anos, também elogiou a médica cubana Tania Marin Alvarez. “Nunca fui tão bem atendida como era por ela. Atenciosa demais. Não só eu, como tenho a certeza de que todos os moradores daqui sentirão falta dela”, declarou. Gabriela dos Santos, de 19 anos, fez todo seu pré-natal com Tania e levava a filha Geovana Santana, de apenas um mês e 15 dias, para ser atendida. “Não acredito que a médica tem que ir embora. Criamos uma amizade a ponto de ligar para ela durante a gestação para trocar informações. É um atendimento humanizado, preocupado realmente com a nossa saúde. Coisa que dificilmente vemos nos médicos brasileiros”, lamentou a moradora.

Uma das cinco profissionais de Cuba, a médica Yorgelis Macias Almenares, com nove anos de formação (sendo seis dedicados à área de clínica geral e três especializada em Atenção Básica), atendia os 3.324 cadastrados do posto Brígida Machado, em Bambuí, além de fazer periodicamente visitas domiciliares para atender os pacientes acamados e mais idosos. Antes de ser a médica responsável por essa unidade, Yorgelis prestou atendimento para as famílias do MCMV de Inoã e também na Venezuela. Para ela, é muito gratificante poder usar sua profissão como instrumento para ajudar as pessoas. “O que mais me motivou é o amor que tenho em ser médica e poder exercer minha profissão”, destacou.

Yorgelis ressaltou que o fato de alguns duvidarem de sua capacidade médica a entristece. “Estudei muito para ser médica e cumpri com excelência todas as etapas exigidas para estar nesse programa. Agora, duvidam do meu profissionalismo e da minha capacidade técnica? E outro fato é de que não somos obrigados a deixar nossas famílias por lá. Meu marido e minha filha de três anos ficaram em Cuba por opção. Agora em dezembro, eles viriam para celebrarmos o Natal”, acrescentou. Sobre o atendimento prestado nas unidades, a médica cubana frisou a necessidade de ouvir e examinar o paciente. “Considero que 90% do diagnóstico da doença é obtido ao examinar e ouvir com atenção e carinho os relatos dos usuários”, ressaltou.

Uma das pacientes de Yorgelis é a dona Eulália Francisca dos Santos, de 101 anos, moradora de Bambuí, que era atendida em casa pela médica cubana, assim como sua filha Maria José Santos, de 65 anos, e seu genro, José Carlos Castro, de 71 anos. “É uma grande perda para a cidade. São excelentes profissionais que dedicam seu tempo e muito amor para atender toda minha família. É um atendimento prestativo, diferenciado e humanizado para descobrir o que temos”, frisou Maria José.

Criado em 2013, pela presidente Dilma Rousseff, em consonância com o princípio da cobertura universal de saúde promovida pela Organização Mundial da Saúde, o programa Mais Médicos, de acordo com o Ministério da Saúde, atende cerca de 63 milhões de brasileiros, sendo responsável por 48% das equipes de Atenção Básica. A ocupação cubana foi feita por meio de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e se distinguiu pela ocupação de lugares não cobertos por médicos brasileiros. O programa conta com 18.240 médicos em mais de 4.000 municípios. Ao todo, no Estado do Rio atuam 220 médicos cubanos.

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