Índios da aldeia de Itaipuaçu (foto) e São José do Imbassaí recebem aulas de Português e Guarani - Foto: Elsson Campos

Comemorado pela garotada, o início das aulas ​em Maricá tem um sabor muito especial também para um grupo de estudantes ávidos por conhecimento e integração. Localizadas dentro de aldeias em Maricá, Para Poti Nhe e Já (em São José do Imbassaí) e Kyryngue Arandua (Itaipuaçu) são duas das 2.765 escolas indígenas existentes no país, segundo o Censo Escolar Brasileiro de 2010. Nelas, 28 alunos – entre crianças e pré-adolescentes – matriculados na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I da rede municipal recebem o ensino bilíngue Português-Guarani, além de participarem de atividades pedagógicas específicas relacionadas à cultura de seu povo.

Convidada este ano para dar suporte à coordenação pedagógica de ambas as unidades, Carolina Potiguara é graduada em História pela UFF, mestranda em Línguas Indígenas pela UFRJ e trabalha com Educação Indígena desde 2006, inclusive realizando eventos culturais e educativos com contação de histórias e palestras. “Os índios contemporâneos precisam conservar suas raízes culturais e se conectar aos costumes do contexto urbano em que estão inseridos”, justifica ela, que é remanescente da etnia Potiguara em Niterói e participa de associações de educadores indígenas e militantes na preservação de patrimônios materiais e imateriais, organizando projetos e feiras temáticas pelo estado do Rio.

“Para a manutenção da cultura indígena deve haver atendimento especializado nos anos iniciais, preparando-os para continuarem os estudos se assim desejarem. A minha convivência com os moradores da aldeia me fez perceber que a manutenção da tradição para eles é muito importante”, conta Indra Désirée Hauff Platais, diretora da escola indígena de Itaipuaçu, que existe há dois anos na Rua das Turquesas (Morada das Águias) e tem hoje nove estudantes sob a batuta da professora Andréa Costa Roque.

“Acredito que essa ação, relacionada à qualidade do ensino indígena, é de grande proveito para todos porque resulta em cidadania e respeito”, ressalta Sarah Moura Norte de Assis, diretora geral e professora da Educação Infantil da escola indígena de São José, que funciona há quatro anos na Avenida Prefeito Alcebíades Mendes (Aldeia Tekkoa Ka´aguy Hoovy Porã, Mata Verde Bonita em guarani) e atende 19 alunos. Sua equipe conta com os professores Diego dos Santos Silva (Educação Física), Kelly Cristina de Matos Mendonça (Ensino Fundamental I) e Jurema Nunes de Oliveira (Auxiliar).

A secretária municipal de Educação, Adriana Costa, assegura que a educação intercultural e multilíngue é parte da política municipal de educação indígena, pautada no respeito à experiência e aos saberes desses povos. “O intercâmbio cultural é um grande ganho para o nosso município. As aldeias recebem a visita do corpo docente de outras unidades escolares da rede pública. Nossa concepção pedagógica vê o conhecimento das tradições como ferramenta de respeito à cultura indígena e de ampliação da visão de mundo. São ações como esta que fazem de Maricá uma cidade cada dia mais plural, de todas as raças e cores, contribuindo para uma educação com mais saberes e sabores”, conclui.

Helen Silvia Ribeiro de Azevedo, gerente de Diversidade e Inclusão Educacional da Secretaria de Educação de Maricá, diz que o modelo de ensino inclusivo indígena da Prefeitura de Maricá não é inspirado em nenhum outro município, seguindo apenas as diretrizes do Ministério da Educação (MEC) para estes casos. “Fazemos tentativas, corrigindo erros e perpetuando acertos. Assim atendemos a esta parcela pequena, porém significativa de nossa sociedade”, afirma. Existem espalhados pelo estado do Rio de Janeiro migrantes das tribos guajajaras do Maranhão, puri de Minas Gerais, caingangue da região sul do país, potiguaras da Paraíba, fulni-ô de Pernambuco, apurinã do Amazonas, entre muitos outros.​

​DADOS NACIONAIS​

Segundo a Unesco (Organização Científica, Educacional e da Cultura das Nações Unidas), no Brasil existem 460 mil índios em 225 aldeias e 170 línguas indígenas diferentes. São 2.765 escolas indígenas do país, segundo o Censo Escolar 2010, ano em que o número de matrículas nessas instituições foi de 246 mil, 0,5% do total da educação básica. A média de estudo entre eles era de 3,9 anos em 2009, de acordo com o IBGE. A maioria dos alunos indígenas, 175 mil, está no ensino fundamental. Outros 22 mil fazem a educação infantil, 27 mil fazem o ensino médio, 21 mil fazem a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e mil fazem a educação profissional. Outros três mil fazem licenciaturas específicas para indígenas.

Criado em 2005, o Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais Indígenas (Prolind) é destinado a apoiar a realização de cursos específicos para a formação de professores indígenas, com respeito ao ensino da língua materna, bem como gestão e sustentabilidade das terras e culturas indígenas. Um dos principais objetivos é fazer com que toda a educação básica seja ampliada nas próprias aldeias, evitando que essas populações necessitem sair de suas comunidades para estudar. O ​programa já formou 1.961 professores.

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