Imagem da 18ª edição da lavagem da escadaria da igreja matriz
A tradicional lavagem em Maricá é considerada a terceira maior do Brasil - Foto: Clarildo Menezes

Praticantes de religiões da matriz africana em Maricá realizaram no último sábado (14/01), a tradicional lavagem da escadaria da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo. Há dezoito anos consecutivos o ritual homenageia Oxalá, um dos orixás de maior ascendência no culto africano. O evento, realizado pela Fonte de Orientação às Religiões de Matriz Africana (Forma), e outras instituições, além dos grupos de capoeira Filhos do Kikongo (Rio do Ouro) e Paz e Liberdade (Engenho do Mato), contou com o apoio da Prefeitura de Maricá, através das secretarias municipais de Cultura e de Turismo.

O babalorixá Antonio Jonas Marreiros, o Pai Liminha, foi o responsável pela organização do evento, que iniciou às 18h, na Praça da Bandeira, saindo em cortejo pela Avenida Nossa Senhora do Amparo até a matriz. Carregando vasos brancos com o peregun (folhas do santo), e quartinhas com água de cheiro, as filhas de santo (iaôs) procederam à lavagem da escadaria, orientadas por suas lideranças, que invocaram proteção para o município e paz e união entre os homens.

Terminada a lavagem, o cortejo seguiu para a Praça Orlando de Barros Pimentel. Ali, ao som dos atabaques, foi  entoado pelo ogã (músico religioso) Xandico, o xirê, cânticos em homenagem aos orixás, que embalaram o samba de roda. As canções folclóricas, de luta e de trabalho (chulas, quadras e ladainhas) animaram os jogos da roda de capoeira dos Filhos do Kikongo e do grupo Paz e Liberdade, liderado por mestre Jabá, ele também Ogã de Oxossi, um dos orixás. “Kikongo é uma etnia e a língua falada por um povo que ainda habita entre os rios Kwili e Kwuango, em Angola, na África”, explica Robson da Costa Dias, 52 anos, o mestre Robson, vestido de marinheiro, um dos personagens tradicionais da roda de samba. Robson faz parte dos conselhos estadual e nacional de Cultura e é fundador há 23 anos, do grupo de capoeiristas que tem sua sede no Ciep Almerinda Azevedo, em Rio do  Ouro.

“Este ano nosso lema é: Queremos a paz para todos”, disse Pai Liminha, mostrando árvores envolvidas com laços brancos e galhardetes pendurados na praça, com os dizeres de Fé, Paz, Amor e Alegria. Ana Clara Ribeiro Correa, a Ana de Oxum, é ialorixá (mãe de santo) do terreiro Kue Seja Esim Roazi, que em língua jeje quer dizer Casa das Águas. “A Prefeitura está de parabéns por ter incluído esse evento no calendário turístico da cidade. O apoio ajuda na reflexão e no combate à intolerância religiosa. Temos direito histórico de exercer nossa religião. Afinal, o negro ajudou a construir este país”, comentou.

Mauriléa dos Santos Souza, 52, moradora de Araçatiba, é filha e irmã de ialorixá, e levou toda a família para assistir ao evento – a filha mais nova Íris, 11 anos, a mais velha, Luana, 28, a neta Aline, 2 anos e o genro Washinton, 28, capoeirista do Grupo Muzenza. “Minha mãe, Nazareth dos Santos, já falecida, era mãe de santo, função que transmitiu à minha irmã Vitória. Somos três gerações de umbandistas e acho que a tolerância e o respeito devem prevalecer entre as religiões”, disse. A coordenadora municipal do segmento religioso afro, Danielle Pacheco, do Axé Gantois, declarou que as religiões de matriz africana têm um histórico de resistência, desde sua chegada ao Brasil. “Os negros têm uma cultura milenar, representada por sua religião, culinária, indumentária, música e dança, que foi proibida pelo colonizador. Finalmente,  as religiões de matriz africana estão se organizando. Existe mais informação e interesse na defesa da cultura afro, mas é preciso mais respeito e tolerância da sociedade. Estamos montando um cronograma de eventos para 2017, e o próximo deverá acontecer no dia 21 de janeiro, Dia de Combate à Intolerância Religiosa”.

O coordenador geral de Assuntos Religiosos da Prefeitura, David Rezeno, adiantou que é necessário um esforço conjunto das lideranças de todos os segmentos para maior tolerância e harmonia entre as pessoas. “Temos uma proposta ecumênica. Nosso objetivo é um maior entendimento entre os diferentes segmentos. Para isto, nossa agenda anual tem atividades que contemplam a todos. Pretendemos realizar um censo de todos os templos religiosos da cidade, para defender direitos e deveres universais”, finalizou.

 

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