O secretário não conhece o ambiente

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Com relação às declarações do secretário estadual do Meio Ambiente, a Prefeitura de Maricá afirma que o sr. André Correa desconhece até  as ações da própria pasta. De acordo com a Licença de Implantação, emitida pelo Inea – órgão que ele preside – e enviada à construtora Sertenge, a empreiteira estava autorizada a implantar o Residencial Carlos Marighella na área selecionada. A licença é o atestado técnico, emitido pela instituição que, pelo menos em tese, tem a obrigação de conhecer a dinâmica hídrica de todos os municípios do estado, mais até do que a Prefeitura. Se foi emitida, significa que o Inea e seus técnicos não vislumbraram naquele local qualquer impedimento para a construção, que, vale ressaltar, é um empreendimento erguido sob responsabilidade do governo federal.

A prefeitura também tem documentos que comprovam a ação do Inea sempre no sentido de proibir o município de realizar o trabalho preventivo de drenagem dos rios e canais da cidade, como analisa o prefeito Washington Quaquá. “A crise foi muito amplificada pela incompetência e negligência do governo do Estado aqui no município”, avalia. “Em dezembro do ano passado recebemos um documento nos informando, primeiro que o Estado não faria as obras e que não tinha previsão de realizar obras nos corpos hídricos das lagoas de Maricá, e, depois, que era proibido a Prefeitura realizar as obras que os incompetentes não tiveram a capacidade de fazer”, emenda. “Então, por conta desta tragédia o estado tem um papel muito grande no que ocorreu aqui. E eu não recebi uma ligação do governador”, completa.

Também ao contrário do que o secretário afirma, os técnicos do Inea só apareceram na cidade alagada quando o prefeito já havia decidido, unilateralmente, abrir o canal da Barra e desobstruir todos os outros pontos de estrangulamento. E o município, assim mesmo, não recebeu o documento oficial, tendo obtido uma cópia quase 24 horas depois – e por muita insistência. “Em janeiro mandei abrir a barra, as máquinas vieram para cá, começaram a fazer o serviço, o vice-presidente do Inea autorizou que a gente iniciasse. Depois, um fiscal veio aqui e, por boicote político, mandaram fechar. Era para este canal estar aberto no dia da tragédia e o impacto ter sido menor”, atesta.

Não há trabalho em conjunto com o estado, já que as ações de mitigação da crise estão sendo feitas pela Prefeitura, em parceria com as igrejas, por voluntários e pela Marinha do Brasil, que atendeu ao apelo do prefeito e deslocou 50 homens com caminhões e barcos para ajudar os desabrigados. Para acrescentar, as águas na área do Residencial Carlos Marighella estão agora baixando mais rápido após a intervenção da Secretaria Municipal de Obras no canal que passa ao lado do condomínio. Cerca de 120 homens, com caminhões e escavadeiras, foram empregados nas duas frentes de trabalho.

Afirmar que a abertura do canal da Barra não tem relação com a inundação em Itaipuacu é demonstrar desconhecimento da estrutura geográfica de toda a região, dotada de um complexo de lagoas todo interligado por canais e rios. Se o volume nas lagoas sobe demais – hoje está em 75 cm, limite máximo – é a abertura do canal que regulariza a situação drenando toda a baixada litorânea, não só as áreas mais próximas do mar. “Hoje o secretário André Correa foi para as televisões, ele não conhece nada, é um engomadinho de cabelo penteado que fica no gabinete, nunca veio a Maricá”, acusa o prefeito. O Inea havia condicionado a abertura ao nível limite de 50 cm, então as condições, mais que adequadas são urgentes. Aliás, vale ressaltar que o canal da Barra não é a única passagem aberta pela Prefeitura. Ainda na terça-feira, a Secretaria Municipal de Obras também reabriu, com a ajuda de pescadores, o canal do Recanto, em Itaipuaçu, junto à Pedra do Elefante.

O Inea é um órgão que não faz e não permite que o município faça. É o principal responsável pela calamidade, já que detém todos os conhecimentos sobre vazão de cursos d’Água e não tomou qualquer providência apesar dos sucessivos apelos da Prefeitura. Nem mesmo a de autorizar que o trabalho preventivo fosse feito. Não à toa, o município ingressará nos próximos dias com ação pública contra o governo estadual e o Inea e seu presidente, com vistas à reparação dos danos causados pela inépcia estadual à cidade e aos seus moradores.

Balanço de Atendimentos:

540 pessoas em abrigos da prefeitura (igrejas e pousadas)

3 mil pessoas atingidas pelas chuvas

176 atendimentos telefônicos do Gabinete de Crise

Centro, Itaipuaçu, São José do Imbassaí, Itapeba, Guaratiba e Jaconé são os locais com maior demanda de atendimento