Descaso do estado é o causador da mortandade de peixes

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A Prefeitura de Maricá vem a público manifestar o seu inconformismo com a repetição do fenômeno da mortandade de peixes no complexo lagunar da cidade. Mais do que uma ocorrência biológica, a perda frequente de biodiversidade, com impactos no sustento de dezenas de famílias que vivem da pesca artesanal e na própria atividade turística na cidade, é reflexo de anos de descaso do estado para com esse importante patrimônio natural.

Os exemplos são claros. Há alguns dias, quando o nível dos rios e das lagoas se elevou acima do normal por conta das chuvas fortes, o município solicitou que o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) estudasse a abertura do canal da Barra, de forma a permitir o escoamento da água e a sua consequente renovação. Após várias medições, o Inea autorizou a prefeitura a preparar a abertura, mas a condicionou a uma elevação ainda maior do nível, o que acabou não ocorrendo.

Há anos a Prefeitura também vem solicitando ao instituto a autorização para que o próprio município faça as dragagens e desobstruções dos rios e canais que compõem o abastecimento desse sistema lagunar. Infelizmente, o Inea vem negando sistematicamente tais autorizações, mas não executa o trabalho. Ou seja, permite que a situação se agrave progressivamente sem que a cidade possa agir para consertar o problema.

Mortandade de peixes tem causas diretas e indiretas. As diretas são biológicas, pela asfixia que mata com enorme agonia várias espécies de peixes, algumas menos resistentes à piora da qualidade do ambiente onde vivem. No caso das ocorrências em Maricá, as causas indiretas estão ligadas também ao descaso da Cedae com a questão do saneamento básico na cidade. A empresa estadual detém, por um contrato assinado ao apagar das luzes da administração anterior, uma exclusividade que transformou Maricá em refém de um cronograma que mantém quase 150 mil habitantes, os peixes e o próprio desenvolvimento da cidade como vítimas de interesses políticos completamente distintos das necessidades da população.

A Prefeitura já propôs diversas soluções à Cedae para a questão da coleta de esgotos, especialmente no que diz respeito ao lançamento clandestino nos rios e lagoas que poderia ser evitado com a construção das galerias de cintura anunciadas com pompa e circunstância pela empresa como sua contribuição dentro do Programa de Aceleração do Crescimento para o município. Mas, como de hábito, nada se concretiza quando se trata desse tema. E a Prefeitura e seus munícipes continuam assistindo, impotentes à degradação do seu patrimônio pela inépcia e pela falta de compromisso real com o desenvolvimento sustentável.

Os caminhões e caminhões de peixes mortos que retiramos das nossas lagoas são levados ao centro de tratamento onde enviamos o nosso lixo. Mas deveríamos lançar esse enorme prejuízo ambiental mesmo nas portas do Inea e da Cedae. O mau cheiro é mais condizente com a atitude do estado do que com o vazadouro.