"Vermelhinhos" de Maricá transportam 2 milhões de pessoas em um ano de circulação

0
1512

Há exatamente um ano a cidade de Maricá se transformava em referência nacional dentro do debate sobre mobilidade urbana e direitos civis.  Nessa data começava na cidade a circulação da frota de 13 coletivos com tarifa zero da Empresa Pública de Transportes de Maricá (EPT), que passou a interligar regiões abandonadas pelas concessionárias que há 40 anos monopolizavam o transporte público na cidade. De lá para cá, os ‘vermelhinhos’ de Maricá, como ficaram conhecidos, já transportaram dois milhões de passageiros – um milhão só nos primeiros cinco meses –, o que gerou uma economia de R$ 5,4 milhões para  seus usuários. A frota atual da EPT tem atualmente 23 ônibus (sendo dez micro-ônibus) e a previsão é de que esse número chegue a 36 ao longo de 2016, sendo dois dos veículos do tipo “jardineira”. De acordo com o presidente da autarquia, Luiz Carlos dos Santos, ambos vão circular pelas áreas turísticas da cidade. O primeiro concurso público da empresa foi realizado em outubro e teve quase 19 mil candidatos às 128 vagas oferecidas. Os aprovados devem começar a trabalhar na empresa em 1º de março.

O presidente, que acompanhou todo o processo de implementação da EPT, considera estar à frente de uma gratificante experiência. “Primeiro é preciso exaltar a coragem do prefeito Washington Quaquá em enfrentar o oligopólio que domina o setor no município", avalia. "Eu me sinto gratificado porque todas as ações que envolvem a mobilidade têm aspectos humanitários e econômicos também. Isso porque, além de reduzir a desigualdade no direito universal e constitucional de ir e vir, a tarifa zero nos ônibus reduziu os custos do empresariado e aumentou a empregabilidade", acrescenta. "Hoje, o empregador de Itaipuaçu pode ter um funcionário que mora em Jaconé sem ter de arcar com o valor da passagem. Isso sem falar no resgate da unidade familiar: um morador que trabalha na capital, por exemplo, não precisa dormir próximo ao trabalho por falta de transporte até sua casa, porque nossos ônibus circulam 24 horas por dia”, pontuou Luiz Carlos.

Outro benefício apontado por ele é o aspecto cultural. Os vermelhinhos da EPT são constantemente utilizados em ações de apoio à Educação – levam alunos e professores da rede municipal de ensino a eventos culturais – e de inclusão social – como transportar os usuários do Centro de Assistência Psicosocial da Prefeitura (Caps) a visitas culturais como parte da terapia de humanização desses pacientes. 

Luiz Carlos destaca também a visibilidade internacional que Maricá passou a ter com o programa Tarifa Zero pela participação justamente no debate nacional e nas redes de apoio à luta pelo direito à mobilidade. “Participei de um congresso em Brasília com prefeitos de cidades como Amsterdã, Seul, Pequim e Lion, todos bem curiosos por conhecer nosso sistema. A repercussão nacional também foi muito grande”, lembrou o presidente.

A EPT também enfrentou, e continua enfrentando, a resistência das empresas de ônibus da cidade, dos sindicatos patronais e de seus aliados. Em agosto, após várias tentativas barradas pela Justiça – que considerava o impacto social que a suspensão do serviço traria à população -uma decisão liminar obrigou os vermelhinhos a saírem de circulação sob alegação de ferirem o sistema de concessão. Apenas 21 dias depois, em 7 de setembro, os coletivos estavam de volta às ruas em quatro novas linhas, sempre abrangendo áreas antes sem nenhum transporte público – e com grande demanda reprimida – e voltando a circular durante a madrugada nos antigos itinerários, atuação que as concessionárias insistem em não realizar.

“Recorremos da decisão e a expectativa é que nossas primeiras linhas sejam restabelecidas no próximo ano", avalia Luiz Carlos. "O problema é que há dois entendimentos de duas câmaras cíveis diferentes do Tribunal de Justiça do Rio, sendo que a segunda não poderia ter julgado uma ação que era de competência da primeira, que foi favorável a nós. Agora, já sabemos que a questão vai retornar à 20ª Câmara Cível e cremos que os magistrados irão nos favorecer novamente”, conclui o presidente, que também é advogado.